Houve uma época que para se ouvir música precisava-se de músicos para executá-la e, assim, não havendo outra forma de se apreciar essa arte se não ao vivo. Mesmo vivendo na era da tecnologia, acredito que a maioria das pessoas ainda prefiram a performance ao vivo – pois é mais interessante do que um CD ou DVD. Por isso afirmo que ainda hoje a música é uma arte que acontece em tempo real.
Partindo desse princípio, concluímos que o músico deve estar sempre em sua melhor forma, pois o público espera uma apresentação impecável da música ali apresentada (ainda mais hoje, que o público tem a referencia de uma gravação em estúdio, onde está tudo perfeitinho). Ou seja, eles esperam que seja igual ou tão bom quanto está na gravação. E falando em gravação, ainda temos o músico de estúdio, que precisa saber gravar rápido e com perfeição.
Sendo assim, para que possamos ter um lugar ao sol, temos que ser bons, muito bons. No Brasil, principalmente, exigi-se que o músico – e principalmente o baterista – toque diversos estilos e ritmos musicais razoavelmente bem. Isso se deve a vasta diversidade musical e cultural do país; dominar vários estilos é quase que critério obrigatório para ser um músico competitivo. Critério esse que não agrada muita gente porque, convenhamos, é um saco tocar um estilo que você não gosta, não é mesmo?
Apesar de ter estudado diversos estilos em minha formação musical, eu optei por ir contra o bom senso, ignorando essa exigência do mercado, especializando apenas naquilo que eu gosto e apostando todas as fichas naquilo que realmente amo e acredito. Essa postura – é um ponto de vista pessoal – chamo de honestidade musical - que é critério indispensável para o verdadeiro sucesso do músico, ao meu ver.
DISCIPLINA: CRITÉRIO INDISPENSÁVEL PARA O SUCESSO
Ter a disciplina necessária para se estudar horas e mais horas a fio não é nada fácil e nem que se consiga fazer da noite para o dia. Leva-se anos para adquiri o hábito do estudo.
O primeiro passo para começar a trilhar um futuro promissor na música é traçar um bom plano de estudos: procure uma instituição de ensino competente ou um bom professor particular. É indispensável ter uma boa orientação profissional.
O meu intuito não é necessariamente ensiná-los a estudar, mas sim, relatar como foi e como é minha rotina de estudos, dessa forma espero poder ajudá-los a entender os desafios e adquirir a disciplina necessária para se dominar o instrumento.
Neil Peart: velocidade, técnica e criatividade única são sua marca.
PREPARANDO-SE PARA OS ESTUDOS
Pensar antecipadamente nos estudos e começar a se preparar psicologicamente antes de sentar para tocar é um bom exercício para a concentração. Desligue a TV, saia da internet, sente-se em um lugar tranqüilo, procure se acalmar e então comece a traçar o roteiro de estudos do dia. Seja otimista e diga a si mesmo que esse dia vai ser produtivo e que você vai ser melhor do que ontem. Feito isso, vá para o instrumento e comece a por em pratica os planos do dia. Eu garanto que seu dia será mais produtivo ao seguir essa rotina de concentração, mesmo que você estude apenas trinta minutos.
QUANTAS HORAS DEVO ESTUDAR POR DIA?
Não existe uma resposta exata para isso, varia muito de pessoa para pessoa. Mas uma coisa é fato: quanto mais você conseguir estudar com qualidade (não adianta ficar amassando barro na batera), mais rápido será sua evolução. Ai que entra minha dica para aqueles que têm dificuldades para estudar: o segredo é dividir em tópicos. Vou descrever minha rotina para vocês entenderem como funciona este segredo.
ROTEIRO DE ESTUDOS DIÁRIOS PARA BATERIA – EM TRÊS PARTES
Parte 1: Instrumento
40 min – técnicas de mãos (rudimentos, resistência etc.)
40 min – grooves + viradas, estudo de independência de membros etc.
40 min – leitura para caixa, solos marciais.
Intervalos de 10min de um para o outro. Estudar usando sempre um cronômetro para dividir o tempo em partes exatas.
Só aqui tem duas horas de estudos. Conseguindo abordar os principais temas da bateria e de forma pouco maçante. Não é difícil, basta querer. Duas horas por dia de estudos bem focados já trás resultados bastante satisfatórios. Como eu disse antes, o importante é a qualidade do estudo, e não a hora estuda em si.
Parte 2: Repertório
É muito importante estudar repertório diariamente. Quando eu estou com tempo curto para estudar, tento no mínimo tocar um pouco em cima de um play along.
O estudo de repertório pode ser feito de diversas formas.
A primeira e mais comum é estudar repertórios que tenha bateristas ícones do estilo musical que você estuda, começando por ordem cronológica (das bandas mais antigas para as mais modernas). Isso o ajudará entender o processo evolutivo do estilo e do instrumento. Transcrever grooves, viradas, solos e acompanhar junto a gravação original, o ajudarão a entender e absorver as linguagens ali estudas.
A segunda opção é o play along. Geralmente eles vêm em métodos de ensino ou você pode encontrar aos quilos na internet. Eu geralmente uso desse recurso para estudar assuntos que eu não tenho a possibilidade de aplicar em músicas da minha banda.
A terceira e mais importante é a performance em grupo. Aqui é o melhor lugar para por em prática tudo que você estudou. Se você estudar em uma instituição de ensino que tenha práticas de banda, será muito bem vindo. Caso não tenha essa possibilidade, o ideal é você montar uma banda com intuito primeiramente de estudar, depois que vocês estiverem afiados, o palco será uma conseqüência.
Essas são as três principais formas de se estudar repertório, sendo que a primeira e a terceira são indispensáveis e devem ser levadas juntas.
Parte 3: Apreciação musical
Eu sempre digo que 70% do estudo da música é ouvir MUITA música. Muitas pessoas hoje em dia têm centenas de músicas em seu MP3 player, mas pouco se conhece destas músicas.
O músico tem o dever de ser mais criterioso ao ouvir música, tirar um momento do dia para ouvir e procurar se informar sobre tudo o que acontece ali. É mais do que uma obrigação. É o mínimo esperado. Se você não gosta ou não tem paciência para isso, sinto te dizer que você está no lugar errado, cara!
Para se criar música, você precisa ter referências de outras bandas, sendo assim, você deve conhecer bem os artistas que você ouve.
Um bom exercício de apreciação musical é você ouvir um disco inteiro prestando atenção em um único instrumento (de preferência que não seja o seu), tentando entender o que ele faz. Faça isso com todos os instrumentos daquele disco. Depois e uma semana escutando o mesmo álbum, você vai notar que sua percepção melhorou muito. E, claro, use um bom fone de ouvido se possível.
Seguindo esse roteiro, vocês poderão notar, que pelo menos quatro horas do seu dia já estão ocupados com música. Garanto a vocês que seguindo esse roteiro, vocês iram colher frutos suculentos da música.
Eu espero que essas dicas possam ajudá-los em seus objetivos, e que logo eu possa ter mais colegas de profissão dividindo os palcos desse mundão!
Por:
Marques Galles
Nenhum comentário:
Postar um comentário